sábado, 19 de abril de 2008

Novos medicamentos, novos tratamentos, novas abordagens
Por Patrícia Mariuzzo e Murilo Alves Pereira


A toda experiência sensitiva e emocional desagradável, relacionada à lesão real ou potencial dos tecidos, é dado o nome de dor, segundo a Associação Internacional para o Estudo da Dor (Iasp, na sigla em inglês). Cada indivíduo aprende a usar esse termo a partir das suas experiências e de sua cultura. Experiências essas que, mergulhadas como estão em determinados estilos de vida, fazem surgir novas dores ou até novas doenças. Livrar-se da dor ou aliviar aquela sensação desagradável é uma das preocupações mais antigas da humanidade. Dizia Hipócrates, considerado o pai da medicina, que aliviar a dor é uma obra divina.
Uma das mais antigas substâncias utilizadas pelo homem para aliviar a dor é o ópio. Em “Uma breve história do ópio e dos opióides”, artigo publicado na Revista Brasileira de Anestesiologia, Danilo Freire Duarte, farmacologista da Universidade Federal de Santa Catarina, conta que Celso, médico romano que viveu no primeiro século da era cristã, recomendava o uso do ópio para o alívio da dor. Ele mesmo foi autor de várias formulações que continham essa substância como principal ingrediente. Parece certo, portanto, que a partir dos romanos, a propriedade analgésica do ópio passou a ser reconhecida. A partir dele são obtidas drogas como a morfina e a codeína, os opiáceos. É possível também fabricar sinteticamente substâncias que têm ação semelhante, que são os opióides.
“Os opióides têm mantido a sua posição como o grupo farmacológico que confere analgesia mais potente”, explica Duarte. São usuários desses medicamentos as pessoas que sofrem de dores muito intensas, como pacientes com câncer, com grandes queimaduras, politraumatizados etc. As principais discussões em torno do uso dos opióides giram em torno dos efeitos colaterais que eles provocam: paralisia do estômago, prisão de ventre (baseado neste efeito, eles também podem ser usados para combater diarréias). Em doses maiores, ocorre queda da pressão arterial, diminuição da frequência respiratória e o coração fica mais lento. Além dos efeitos colaterais, há ainda questões importantes a serem respondidas, segundo Duarte, entre elas se essas drogas são igualmente potentes como analgésicos para qualquer tipo de doença, e o risco de vício para pacientes com dores crônicas, que recebem esses medicamentos por tempo prolongado.
O farmacólogo explica que todos os efeitos dos opióides, inclusive os adversos, são decorrentes das interações que ocorrem entre essas drogas e receptores específicos do sistema nervoso, tanto os que transmitem quanto os que inibem a dor. “Os conhecimentos atuais de farmacologia clínica permitem selecionar o opióide a ser administrado, buscando obter o máximo de analgesia com o mínimo de efeitos colaterais. Essa relação custo-benefício se tornará ainda mais efetiva quando as pesquisas levarem a uma maior identificação de sub-tipos de receptores, a um maior esclarecimento da interação opióide-receptor e à síntese de novos opióides com ação mais seletiva ou mesmo específica”, conclui.
Cientes dos efeitos colaterais do uso prolongado de analgésicos e antiinflamatórios, os profissionais da saúde têm buscado combinar técnicas de tratamento convencional à medicina tradicional. A hipnose, a fitoterapia e a acupuntura são algumas delas. “Nos últimos anos a utilização de medicamentos fitoterápicos vem crescendo significativamente e isso se deve principalmente à comprovação, por meio de estudos clínicos, da segurança e da eficácia desses medicamentos”, acredita Marcos Korukian, médico do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina. Ele participou da pesquisa que resultou no primeiro fitoterápico antiinflamatório tópico brasileiro, criado a partir do extrato da erva-baleeira, também conhecida como maria milagrosa. O produto é vendido pela Aché Laboratórios Farmacêuticos S/A com o nome de Acheflan e faz parte de uma linha de fitomedicamentos criada pela empresa, a Phytomedica.
O medicamento é indicado para o tratamento de traumas, dores musculares e tendinites. “Os estudos realizados mostram que os pacientes tratados com a pomada fitoterápica tiveram alívio mais rápido da dor e da inflamação. O tratamento foi, em geral, mais eficaz do que naqueles que utilizaram o diclofenaco dietilamônico, princípio ativo presente nos antiinflamatórios convencionais do mercado, com o mesmo perfil de segurança”, explica Korukian.
Outra aposta na pesquisa de novos medicamentos para conter a dor é o desenvolvimento de remédios a partir de toxinas de outros seres vivos. O Centro de Toxicologia Aplicada, CAT, um dos dez Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids), criados pela Fapesp em 2000, sintetizou a proteína enpak, sigla para endogenous pain killer, ou analgésico endógeno, obtida a partir do veneno da cascavel. Os testes mostraram que o enpak tem, em uma única dose, poder de analgesia 600 vezes superior ao da morfina. O efeito se prolonga por até cinco dias sem efeitos colaterais.
Agulhas no sistema único de saúde
Outra técnica tradicional para aliviar a dor, que tem sido alvo de pesquisas científicas é a acupuntura. Um exemplo é o trabalho da médica obstetra, especialista em acupuntura, Roxana Knobel, desenvolvido no Centro de Atendimento Integral à Saúde da Mulher, Caism, da Unicamp. Ela concluiu que a acupuntura contribui de maneira eficaz para aliviar a dor durante o processo de dilatação que antecede o parto propriamente dito. “As parturientes do grupo placebo receberam três vezes mais drogas, analgésicas e/ou tranquilizantes, do que as que receberam acupuntura. Embora a diferença entre a via de parto não tenha sido estatisticamente significativa entre os grupos, observou-se que no grupo controle houve praticamente o dobro de cesáreas que no grupo que utilizou a acupuntura, devido à intensidade da dor”, explica Knobel. A técnica também se mostrou segura, pois não houve nenhum efeito colateral para as mães e tampouco para os bebês.
O parto é dividido em três fases: a primeira, dilatação, vai do início das contrações uterinas até que o colo se dilate por completo. Segundo a médica, esta fase pode durar até oito horas e é muito dolorosa para a mulher. A segunda vai da dilatação completa até a saída do bebê. Demora 30 minutos. A terceira fase é a expulsão da placenta. “Mesmo atualmente, com os avanços das técnicas analgésicas e a possibilidade de alívio, a dor do parto ainda é tida como uma das mais intensas sentidas pelo ser humano e certamente é temida pelas parturientes, preocupando familiares e a equipe de saúde envolvida”. Uma opção são as drogas opióides, mas elas têm efeitos colaterais intensos, podendo causar depressão respiratória na mãe e no recém-nascido. Daí a importância de aliviar a dor no período da dilatação. No estudo a obstetra fez aplicações de acupuntura nas costas ou na orelha das parturientes. O grupo de controle recebeu tratamento simulado.

Leia na íntegra no link: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=8&edicao=24&id=273

Um comentário:

Carolina disse...

As substancias que contém o ópio são eram utilizadas antigamente por seu poder analgésico, visto que estas atuam impedindo a passagem dos transimissores devido ao fechamento dos canais de cálcio. Essa passagem também pode afetar o funcionamento de alguns órgãos causando assim efeitos indesejáveis. Esses efeitos são euforia, náuseas, vômitos, depressão da respiração e entre outros.
Buscando amenizar os efeitos colaterais dos analgésicos e dos antiinflamatórios que podem causar no caso desses últimos podem causar diminuição das sensibilidade nervosa or diminuir a produção de prostaglandinas.